Sócrates (470 a.C.-399 a.C.)
Por THEODIANO BASTOS
A vertigem da vida moderna e sua cultura dominada pelo
hedonismo que faz do prazer a única razão de viver, tem seu preço na forma de
angústia existencial. Lado a lado, valores divergentes a serem observados. Fica
difícil a escolha do caminho a seguir, e o
neurótico sofre bem mais por suas contradições interiores, seus conflitos não
resolvidos. Deve-se ter a vida analisada para se aprender a
se defender de si próprio, pois o pior inimigo está dentro de nós.
Mas como conhecer-se a si mesmo? Tem
bem mais mulheres que homens crescendo de dentro para fora, procurando conhecer
a face oculta da mente. É sabido que a fonte das neuroses e dos conflitos não
resolvidos e recalcados estão no relacionamento familiar, até a adolescência,
fase muito importante na formação humana, e
responsável pela ansiedade, depressão, indecisão, inércia, fadiga,
alheamento, infelicidade, o medo difuso de perder o controle e explodir como um
vulcão, fobias, complexos, doenças psicossomáticas, sofrimento.
Mestre,
como o senhor resumiria toda sua filosofia, perguntam angustiados os discípulos de Sócrates antes
de sua morte? — "Conhece-te a ti mesmo",
para conheceres os deuses e o universo, respondeu Sócrates. Cristo e Buda
também pregavam a libertação pelo autoconhecimento. Escrito há 2.500 anos, hoje
um livro estudado em universidades e multinacionais, no livro “A Arte da
Guerra”, o filósofo e general chinês Sun Tzu, ensina: " Você começa a
perder quando não vê no adversário qualidade. Está claro que quando existe uma
competição, os dois competidores possuem qualidades e defeitos. O que tiver
conhecimento deste conjunto será o vencedor. Se você conhece o inimigo e
conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se
conhece e não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma
derrota. Se você não conhece nem o inimigo e nem a si mesmo, perderá todas as
batalhas. Riscos a serem
evitados: Subestimar o próprio potencial e ficar na inércia ou superestimar
esse potencial e cair na insensatez.
Mas é longo e tortuoso o caminho da
libertação pelo autoconhecimento, a fim de coabitar pacificamente com os anjos e demônios interiores,
mesmo com a ajuda de um psicanalista. Quando nascemos, já trazemos armazenados
no cérebro algo como 30% da memória dos ancestrais, segundo estudos recentes; é
o inconsciente coletivo de que fala Jung, de difícil acesso, e os 70% de
memória, seja armazenado no consciente ou no inconsciente, são resultados de
experiências desenvolvidas ao longo da vida graças ao aprendizado e dados
através dos cinco sentidos conhecidos. É “o inconsciente pessoal”, segundo
Jung. Isto é, já chegamos a este mundo com os conflitos básicos. Quando um homem e uma mulher se unem na formação de uma
família, cada um já traz dentro de si suas neuroses, seus problemas, que
influenciarão no relacionamento.
As
forças subversivas da natureza humana, isto é, o ódio, a inveja e o ciúme, que dão forma a um
outro eu, a sombra, o inimigo dentro de nós mesmos e que procura nos destruir.
Forças compulsivas e inconscientes se digladiam internamente e tomam a forma
demolidora que todos nós devemos temer. ”O
inimigo mais perigoso que você poderá encontrar será sempre você mesmo”, advertia Friedrich Nietzche. Goethe, em Fausto, conta a luta interior de
Guida: "No meu corpo há duas almas em competição, /anseia cada qual da
outra se afastar./ Uma rude me arrasta aos prazeres da terra / e se apega a
este mundo, anseios redobrados;/ outra ascende nos ares; nos espaços erra, aspira
à vida terrena e a seus antepassados"
. Quem sou eu? Quem é esse estranho que caminha ao meu
lado? É a nossa sombra, o lado negativo
de nossa personalidade. Impotente em resolver os conflitos interiores, que nos
causam tantos sofrimentos, temos a tentação de escolher como bode expiatório de
nosso infortúnio quem esteja mais próximo, quem convive conosco, sejam os pais,
irmãos, marido ou esposa. Como um espelho, vemos projetados nos pais nossos
próprios defeitos que odiamos. "Toda criatura tem duas almas, uma
que olha de dentro para fora, outra que olha de fora para dentro. O pai era o
espelho que ensinava a se ver de fora para dentro". "Viver conscientemente conflitos, apesar
de doloroso, pode ser um dom inestimável. Quando mais enfrentamos nossos
conflitos e procuramos nossas próprias soluções, tanto mais ganharemos em
liberdade e vigor interiores. Só quando estamos dispostos a arcar com os
embates é que poderemos aproximar-nos do ideal de sermos o comandante de nossa
própria nau", ensina a psicanalista Karen Horney na sua obra “Nossos
Conflitos Interiores”. E ser o “grande
homem” de que fala a sabedoria chinesa, é ser aquele que domina seu próprio
espírito. Também Erich Fromm ensina: "O objetivo da vida é nascer
plenamente, mas a tragédia consiste em que a maior parte de nós morre sem ter
nascido verdadeiramente. Viver é nascer a cada instante". E novamente consola Goethe, em “Fausto”: "A
quem persista na esperança, ainda resta a salvação”. Ângelo Silésius, um místico medieval, diz: "Se, no teu
centro, um paraíso não puderes encontrar, não existe chance alguma de, algum
dia, nele entrar".
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