quinta-feira, 5 de novembro de 2020

A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL ESTÁ DESTRUINDO A INTELIGÊNCIA HUMANA

Valdir de Oliveira: “A inteligência artificial está destruindo a inteligência humana e precisamos refletir sobre isso”

Entrevista // Valdir Oliveira, superintendente do Sebrae-DF

O Sebrae-DF vai promover o Inova Digital, evento entre 12 e 14 de novembro, com a presença de celebridades do mundo digital como a consultora Brittany Kaiser, diretora de desenvolvimento da Cambridge Analytica, empresa que combinava mineração a análise de dados com comunicação estratégica para processos eleitorais.

Kaiser participou do documentário Privacidade hackeada, transmitido pela Netflix.

Outra figura que confirmou presença é Jaron Lanier, um dos maiores conhecedores da realidade virtual no mundo.

Crítico do Facebook e do Google, é considerado pela revista Time uma das 100 pessoas mais influentes do mundo.

Jaron participou do documentário O Dilema das Redes, na Netflix.

O superintendente regional do Sebrae, Valdir Oliveira, tem se interessado bastante pelo assunto e acredita que há lições para o setor produtivo.

O que Brittany Kaiser, contratada como diretora de negócios da Cambridge Analytica, pode ajudar na compreensão do mundo hoje?

Na transformação, no efeito da manipulação na vida das pessoas. Essa atuação da Cambridge Analytica transformou as pessoas em produto. Ela trouxe um novo conceito de marketing, onde o objetivo é a mudança no comportamento das pessoas para que elas possam consumir o que se está vendendo, independente de ser útil ou não, de ser bom ou não, da necessidade ou não. Precisamos fazer uma reflexão dos limites éticos dessa manipulação das pessoas.

Estamos orientando nossos empreendedores a fazerem a sua transformação digital. Precisamos também estimula-los a uma reflexão dos limites éticos que eles precisam observar para que não criemos monstros com inteligência artificial que nos transformem em robôs a serviço deles.

Não podemos permitir que a inteligência artificial se sobreponha à inteligência humana. Não podemos permitir que a humanidade se destrua pela ignorância e fique a serviço de interesses pontuais.

A Brittany Kaiser se tornou uma ativista na defesa da privacidade das pessoas, na proteção de seus dados, porque ela sabe as terríveis consequências da sua atuação na Cambridge Analytica, que transformou o sentimento das pessoas em ódio e destruição.

A Brittany Kaiser se transformou na resistência à manipulação devido à consciência de seus próprios erros e à ação das autoridades contra o crime cometido.

 

Você tem se interessado muito pelo tema. O que o impressiona na manipulação de dados e invasão da privacidade?

No que nos transformam, no que nos tornamos após sermos manipulados. Na capacidade da inteligência artificial de definir a nossa própria vida, nossos desejos e nossa tomada de decisão.

A atuação com Big Data tem o poder de tirar as pessoas da zona de conforto, da letargia frente à insatisfação e transformá-las em um exército que não sabe ao certo os motivos da guerra, mas que está disposto a vencê-la a qualquer custo.

A inteligência artificial está destruindo a inteligência humana e precisamos refletir sobre isso.

Os instrumentos utilizados nessa manipulação são perversos porque usam do seu próprio perfil para mudar o seu comportamento, sem que você perceba. E quando menos se espera, você está a serviço de uma guerra onde o seu objetivo principal pode ser destruir a si.

O maior ativo da humanidade é a sua liberdade. E o trabalho do Big Data com inteligência artificial retira sua liberdade de escolha e lhe põe a serviço de outros.

A manipulação e a invasão da privacidade são uma afronta à liberdade individual, que é uma cláusula pétrea da vida das pessoas. Precisamos dar um basta nisso para salvarmos o futuro das próximas gerações.

Qual é o maior perigo da manipulação de dados da internet na política e no mercado?

Escolhermos o que não queremos, a decisão de consumo diferente da sua real necessidade, do seu desejo.

Quando somos alvo de manipulação, mudamos nosso comportamento e somos induzidos a termos o desejo que interessa a quem nos manipula e não do que de fato queremos ou precisamos.

Isso serve para o mercado e serve para a política. Até que ponto é ético influenciar na sua decisão de consumo, seja no mercado ou na política, para o único propósito de interesses que não são seus?

Até que ponto é ético despertar o medo para ter como resposta a decisão de consumo que interessa ao manipulador e não aos seus desejos?

Até que ponto é ético invadir a sua privacidade sem o seu consentimento para lhe usar para o propósito do manipulador? O maior perigo da manipulação é lhe transformar em robô na defesa do interesse alheio.

O perigo que corremos é a criação de uma sociedade desprovida de vontade própria, que não defenderá mais suas próprias ideias, um exército de robotizáveis a serviço do interesse de poucos.

Aqui no Brasil, desde nossa descoberta, lutamos por independência. Entretanto, se permitirmos o trabalho do Big Data e da inteligência artificial sem freios e contrapesos, nos tornaremos novamente colônia de um império que servirá ao enriquecimento de poucos. https://blogs.correiobraziliense.com.br/cbpoder/valdir-de-oliveira-a-inteligencia-artificial-esta-destruindo-a-inteligencia-humana-e-precisamos-refletir-sobre-isso/

EUA: SISTEMA ELEITORAL MAIS COMPLICADO DO MUNDO

Questões do império

Anacrônico e antidemocrático, o sistema eleitoral dos Estados Unidos e o mais complicado do mundo

UM GUIA PARA ENTENDER A ELEIÇÃO AMERICANA

LUCAS DE ABREU MAIA

Você provavelmente já sabe que as eleições americanas são, para usar um termo extremamente técnico, uma bagunça. E bem difícil de entender para quem, como os brasileiros, raciocina com base numa eleição direta, em que cada eleitor tem um voto, e o candidato com mais votos vence.

O candidato democrata e ex-vice de Barack Obama, Joseph Biden, é apontado pelas pesquisas como favorito para derrotar o presidente Donald Trump. A apuração desta noite vai deixar muita gente de unhas roídas. Ela acontece estado a estado, e não nacionalmente, como no Brasil. Cada estado tem suas regras e um ritmo diferente para contar os votos. A pandemia de Covid-19 aumenta ainda mais a incerteza. Dificilmente o resultado oficial do pleito será conhecido até o fim do dia – mas já deveremos ter sinais claros de quem será vencedor. A seguir, algumas perguntas para ajudar a entender o sistema eleitoral americano e a forma como os votos são distribuídos entre democratas (cujo símbolo é um burro) e republicanos (cujo símbolo é um elefante).  

Por que quem recebe mais votos da população nas eleições americanas não necessariamente ganha a eleição?

Porque os EUA não foram desenhados para ser uma democracia. Os autores da Constituição dos Estados Unidos morriam de medo da “ditadura da maioria”. Acreditavam em uma República governada por uma elite intelectual. Nesse sistema, o principal líder do país, o presidente, não seria eleito pelo voto do povo.

A ideia era que o eleitor de cada estado escolhesse alguns representantes para que comparecessem a uma conferência nacional, chamada de colégio eleitoral. Nessa conferência, esses representantes – os delegados – debateriam entre si e, juntos, escolheriam um sujeito que se tornaria presidente.

Mal se passaram trinta anos da promulgação da Constituição, em 1787, até que os delegados começassem a vincular seus votos no colégio eleitoral a candidatos específicos. Ou seja, em vez de dizerem que escolheriam o melhor homem (e, naquela época, era necessariamente um homem) para governar o país depois de longos e complexos debates, os delegados já se comprometiam de cara a votar num determinado candidato.

Os estados aprovaram leis obrigando todos os delegados daquele estado a votar no mesmo candidato – e esse candidato tinha de ser, obrigatoriamente, o que recebeu a maioria dos votos dos eleitores naquela unidade federativa.

Na década de 1830, já estava em vigor o sistema atual, uma mistura de voto popular nos estados com o colégio eleitoral que os autores da Constituição haviam pensado. Basicamente, o sistema atual funciona assim: ocorre uma eleição em cada estado, em que os eleitores votam nos seus candidatos favoritos para a Presidência. Mas, em vez de somarem a votação de cada estado para encontrarem o vencedor em todo o país, cada estado (e o Distrito de Columbia que, como o nosso Distrito Federal, não é um estado formalmente) calcula seus votos separadamente. Cada uma dessas unidades tem um número exato de delegados. No colégio eleitoral, esses delegados têm, necessariamente, de votar no candidato que recebeu mais votos naquele estado. É a soma dos votos de cada unidade federativa no colégio eleitoral que determina o vencedor das eleições presidenciais americanas.

Há duas exceções à regra de que o vencedor leva todos os delegados daquele estado: Maine e Nebraska. Neles, a votação é conduzida distrito a distrito. Vai um delegado para o vencedor de cada distrito e um, de bônus, para quem ganhou a eleição no estado inteiro. Há, também, casos de delegados que, quando chegam ao colégio eleitoral, se recusam a votar conforme o eleitorado do seu estado. Mas esses casos são raros o bastante para nunca terem feito qualquer diferença numa eleição presidencial.

Como é definido o número de delegados de cada estado?

Cada estado tem direito a tantos delegados quantos assentos tem no Congresso americano, somando Câmara dos Deputados e Senado. Por exemplo, a Califórnia tem 53 assentos na Câmara e dois no Senado. Tem, portanto, 55 delegados no colégio eleitoral. A exceção é o Distrito de Columbia, que não tem representação no Congresso mas tem três delegados, mesmo assim.

Os assentos na Câmara são distribuídos mais ou menos de acordo com a população de cada estado. Quanto mais populoso o estado, maior sua delegação. Mas há limites. Nenhum estado pode ter menos que um deputado, e o número máximo de deputados na Câmara é 435. O número de assentos no Senado não é proporcional à população. Cada um dos 50 estados tem dois senadores. Isso cria uma distorção, porque os estados mais populosos têm, no Senado, o mesmo número de representantes dos estados menos populosos – e isso vai se refletir na relação entre o total de eleitores representados por delegado no colégio eleitoral.

O colégio eleitoral tem 538 delegados, e vence quem tiver maioria absoluta, com pelo menos 270 votos. https://piaui.folha.uol.com.br/um-guia-para-entender-eleicao-americana/

Por isso Jorge Pontual diz: ‘É muito arcaico e até antidemocrático esse sistema americano’                             O GLOBO 05/11/20

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

PLEBISCITO PARA NOVA CONSTITUIÇÃO

Por Theodiano Bastos

O líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros, dep.ricardobarros@camara.leg.br defendeu nesta segunda-feira uma nova Constituição para o país, que traga mais deveres do cidadão e garanta de fato o equilíbrio entre os Poderes da República.

Segundo ele, que externou a opinião pessoal a favor de uma nova Constituinte em evento virtual da Academia Brasileira de Direito Constitucional (ABDConst), a Constituição atual torna o país ingovernável.

"A nossa Constituição, ela, a Constituição Cidadã, o presidente (José) Sarney já dizia, quando a sancionou, que tornaria o país ingovernável e o dia chegou. Temos um sistema ingovernável".

ASSEMBLEIA GERAL CONSTITUINTE

               EXCLUSIVA

Theodiano Bastos

                      “É ingenuidade pedir a quem tem poder para mudar o poder”, Giordano Bruno.

                                 A Nova Carta Magna seria submetida a um referendo e a Assembleia Constituinte seria dissolvida e seus membros proibidos de concorrer  a cargos eletivos nas eleições seguintes, único jeito de se implantar o Parlamentarismo e aprovação das reformas imprescindíveis, como as políticas, fiscal, tributária, trabalhista e sindical, o que propiciará a execução de projeto ambicioso de “engenharia social” no Brasil, preservando-se do Estado Democrático de Direito. É um desafio neste mundo conturbado e preso à síndrome do medo, mas necessárias e desejadas a fim de se conseguir as mudanças profundas que dêem outro rumo ao Brasil, no interesse das maiorias sempre marginalizadas e excluídas.

Este texto está no blog: theodianobastos.blogspot.com e no FACEBOOK

                        A “Constituição Cidadã” de 1988, Desde a promulgação, em 1988 a Carta Magna teve 105 emendas. Ela foi elaborada para vigorar num regime parlamentarista e mesmo assim seu texto foi aproveitado para o presidencialismo. Pouco se fala em seu texto de deveres, mas está recheada de direitos. O então presidente José Sarney comentou: “está constituição deixará o Brasil ingovernável” E constituição de 1988 virou uma colcha de retalhos com dezenas PEC – Projetos de Emenda Constitucional aprovada para que o Brasil se tornasse governável. Os mesmos parlamentares que a redigiram candidataram-se no pleito seguinte de 1989 e 60% deles não se reelegeram e o Senhor Constituinte, Dep. Ulysses Guimarães, ficou em sétimo lugar como candidato a presidente da república.

SÉRGIO MORO: O QUE DIFICULTOU A GOVERNABILIDADE FOI A CORRUPÇÃO

https://brpolitico.com.br/noticias/moro-rebate-critica-a-constituicao-o-que-dificultou-governabilidade-foi-corrupcao/

                     O Brasil já teve oito textos constitucionais, incluindo-se os de 1967 e 1969 do Regime Militar, mas nunca teve uma genuína Assembleia Nacional Constituinte, diz Mauro Santayna em seu artigo no Jornal do Brasil de 26/06/09. A primeira, de 1823, que o imperador dissolveria, fora escolhida entre as reduzidas elites rurais e os comerciantes das cidades portuárias. A Constituição de 1824, outorgada pelo imperador, ainda que se identificasse como liberal, determinava que só podiam ser cidadãos e eleitores os que tivessem determinados níveis de renda por ano. Os pobres, que viviam do trabalho manual, não se faziam representar, e continuaram não se fazendo representar depois da Proclamação da República, que acabou com o voto censitário, mas manteve fora da cidadania as mulheres e os analfabetos. O Congresso Constituinte, convocado por Deodoro, não mudou a natureza social da classe dirigente. Os republicanos eram republicanos, mas nem tanto: a maioria dos escolhidos provinha das mesmas oligarquias que sustentavam o Império. Além disso, as eleições posteriores, a bico de pena, só ratificavam o poder dos senhores do campo, que dominavam o sistema, associados aos comerciantes e industriais. Como sustentáculos dessa ordem de domínio agiam, de um lado, os militares e, do outro, os advogados. Associadas, a espada e a lei mantiveram o regime.

 

                         Os parlamentares eram quase todos bacharéis, e, em número bem menor, médicos e engenheiros A Revolução de 30 foi necessária, mas a situação internacional não permitiu que a plataforma democrática da Aliança Liberal se cumprisse na Carta de 1934, pervertida pelo corporativismo de inspiração italiana. Da Constituição totalitária redigida por Francisco Campos, em 1937, não há o que comentar. A Assembleia Constituinte de 1945 se reuniu sob a remanescente influência do Estado Novo, e manteve a hegemonia do poder central. Depois da Constituição de 1946, perdemos a oportunidade de convocar assembleia originária e exclusiva, a fim de elaborar a Carta de 1988. Antes tivemos as constituições impostas pelo Regime Militar. “Recorrer à soberania do povo, com uma Assembleia Constituinte exclusiva, que se dissolva depois de cumprida a tarefa, é a nossa única esperança a fim de retornar ao início da vida republicana, e fundar, finalmente, a República necessária. O nosso futuro continua no passado”, conclui Mauro Santayana.

                    TEMA POLÊMICO                                      Constituinte e ruptura

Ruy Fabiano é jornalista

A constituinte revisora, proposta pelo PSD – e já defendida anteriormente por partidos do governo e da oposição -, enfrenta dois tipos distintos de contestação: política e jurídica.

A política é volátil e casuística: o temor de não dominá-la, de ter o adversário como maioria. Daí o PT tê-la combatido e, posteriormente, proposto. Idem a oposição.

A jurídica tem como epicentro o princípio de que constituinte só se justifica se houver ruptura da ordem constitucional (golpe de Estado ou revolução). É a que importa avaliar aqui, já que a contestação política não tem cabimento ético.

Entre as formas de ruptura clássica, o Brasil pós-constituinte concebeu a sua: nem golpe, nem revolução, mas o esgarçamento lento e gradual do tecido constitucional.

Desde a promulgação, em 1988, já são 67 emendas ao texto original, havendo ainda mais de duas centenas de propostas de emendas em tramitação no Congresso e cerca de mil ações diretas de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal.

No dia seguinte à sua promulgação, o então presidente da República, José Sarney, considerou-a fator de ingovernabilidade. Os presidentes que se lhe seguiram, incluindo Lula, se elegeram prometendo reformá-la. Desde então, instalou-se no país o espírito reformista compulsivo. Só que ao sabor de cada governante, que puxava a brasa para sua sardinha ideológica.

O GOLPE DA REFORMA POLÍTICA

Por Ruy Fabiano

A ideia de convocar uma Assembleia Constituinte a pretexto de promover uma reforma política é parte essencial do projeto de poder do PT: consolida-o e torna a hipótese de alternância algo tão remoto quanto não haver nada de ilícito nas contas da Petrobrás.

Basta examinar dois tópicos que o PT considera prioritários nessa reforma: financiamento público exclusivo de campanha e voto em listas fechadas. A propósito, o partido já deu ciência disso por escrito a seus filiados, e programa uma marcha sobre Brasília, nos moldes da que Mussolini promoveu sobre Roma, em 1922.

O objetivo é pressionar o Congresso de fora para dentro, tese com a qual concorda a presidente Dilma Roussef, conforme pronunciamento que fez na sequência das manifestações de junho do ano passado, em que também defendeu uma Constituinte.

Financiamento público, precedido, como já está, da proibição de contribuições de pessoas jurídicas, garante ao partido hegemônico a maior fatia do bolo, já que a divisão obedecerá o critério da proporcionalidade das bancadas.

Não bastasse, veda o acesso de novas legendas, que, com as migalhas a que terão acesso, terão que se contentar com manifestações nas redes sociais. Não tendo bancadas, não terão dinheiro; não tendo dinheiro, não terão bancadas.

 

De quebra, não impede o caixa dois; apenas o monopoliza: ninguém, com recursos e senso de sobrevivência, negará auxílio a quem se eternizará no poder; e, por extensão, não o dará a quem dele está prévia e definitivamente excluído. O jogo é esse.

O voto em lista fechada dispensa maiores explicações: deixa-se de escolher o candidato; vota-se na legenda. A cúpula partidária organiza as listas. Quem é amigo do rei conquista seu lugar; quem não é não tem acesso. O eleitor terá que se contentar com os critérios dos caciques partidários.

Não é de hoje que o PT sonha com essa reforma, para a qual quer uma Constituinte. E por que não a faz com o próprio Congresso, que tem poderes para reformar a Constituição? Simples: porque não teria votos suficientes para aprová-la.

A aprovação de emendas constitucionais exige complicado rito: três quintos de votos favoráveis em cada Casa do Congresso, em dois turnos. Numa Constituinte, vota-se uma única vez, em sessão unicameral, por maioria absoluta.

Em abril de 2007, o presidente Lula recebeu em audiência um grupo de dez juristas aos quais havia incumbido um estudo para mudar as regras das CPIs (estudo que foi arquivado). Estava escaldado com o massacre das CPIs do Mensalão.

No curso da conversa, porém, o presidente da República pôs inesperadamente outro tema em pauta: a reforma política. Sugeriu que talvez fosse mais eficaz fazê-la por meio de uma Assembleia Nacional Constituinte exclusiva.

Um dos interlocutores, ex-presidente da OAB, Reginaldo de Castro, esclareceu num artigo: “Ideia dele (a Constituinte), trazida à conversa por iniciativa dele e tão-somente dele. A nós, coube ouvir e emitir opiniões improvisadas, já que não esperávamos tal assunto”. O presidente explicou: a Constituinte funcionaria paralelamente ao Congresso, seria integrada não apenas por representantes dos partidos políticos, mas também por cidadãos. Não explicou como isso se daria, nem ninguém lhe perguntou.

Finda a audiência, o Planalto informou que a tese havia sido sugerida ao presidente pelos juristas – e não o contrário, como ocorreu. Como entre eles havia quatro ex-presidentes da OAB, vinculou a entidade à proposta, que, no entanto, já a havia rejeitado, dois anos antes, em debate interno.

Foi uma escaramuça, uma técnica para aferir a receptividade de uma proposta e avaliar a oportunidade de sua apresentação. Constatou-se que não era o momento. Mas o tema não foi arquivado: ficou em banho-maria.

Após as manifestações de junho, constatou-se que chegara a hora. Ou o partido a punha em pauta já ou, diante do desgaste de que padece, correria o risco de não tê-la mais sob controle.

O plebiscito dará aparência de democracia, mesmo que para violentá-la, já que a maioria dos votantes desconhece a complexidade e sutileza do que nela está embutido.

É o golpe final, que repete o processo venezuelano, em cuja gênese estão as digitais do PT e do Foro de São Paulo. Quando o Foro completou 15 anos, em 2005, Lula, em meio às celebrações, reivindicou: “Fomos nós que inventamos o Chávez”. Ninguém duvida. O fruto da reforma, na ótica do PT, está agora maduro.”   Ruy Fabiano é jornalista.                                                                                                         Fonte: http://oglobo.globo.com/pais/noblat/ 26/04/14

                                               ***

Somente 35 deputados, dos 513 da atual legislatura, se elegeram com votação própria. Por conta das coligações, o eleitor votava em seu candidato e elegia outro.

Senadores biônicos, compram os mandatos financiando o titular que logo é nomeado para outro cargo e assim chega ao Senado da República sem um único voto.

 

 

 

 

 

 

BOLSONARO DESLUMBRADO, O PODER CORROMPE, INEBRIA E DESTRÓI

 


O PODER INEBRIA, CORROMPE E DESTRÓI

Rêgo Barros: "A soberba lhe cai como veste. Infelizmente, o poder inebria, corrompe e destrói!"

Em artigo publicado no Correio Braziliense, o general Otávio do Rêgo Barros, que foi porta-voz de Jair Bolsonaro até o início do mês, faz duras críticas à mudança de comportamento do presidente da República, que optou por cercar-se de “seguidores subservientes” a ter de enfrentar a “discordância leal”.

Sem citar o nome de Bolsonaro uma única vez (como se fosse necessário), o general lembra que os generais romanos sempre traziam junto de si escravos cuja missão era “sussurrar incessantemente aos ouvidos vitoriosos: ‘Memento Mori!’ — lembra-te que és mortal!”.

Não é o caso de Bolsonaro, cuja “audição seletiva acolhe apenas as palmas”. “A soberba lhe cai como veste”, escreve o militar. Segundo ele, é “doloroso perceber que os projetos apresentados nas campanhas eleitorais são meras peças publicitárias”. “Valem tanto quanto uma nota de sete reais.”

No artigo, Rêgo Barros critica indiretamente também os colegas de farda que se calam diante dos abusos que são cometidos, apenas para manter seus cargos.

“Alguns deixam de ser respeitados. Outros, abandonados ao longo do caminho, feridos pelas intrigas palacianas. O restante, por sobrevivência, assume uma confortável mudez. São esses, seguidores subservientes que não praticam, por interesses pessoais, a discordância leal.”

Além do diagnóstico, o general faz um alerta. Segundo ele, “as demais instituições dessa república — parte da tríade do poder — precisarão blindar-se contra os atos indecorosos, desalinhados dos interesses da sociedade, que advirão como decisões do ‘imperador imortal'”.

“Deverão ser firmes, não recuar diante de pressões. A imprensa, sempre ela, deverá fortalecer-se na ética para o cumprimento de seu papel de informar, esclarecendo à população os pontos de fragilidade e os de potencialidade nos atos do César.”

“Os líderes atuais, após alcançarem suas vitórias nos coliseus eleitorais, são tragados pelos comentários babosos dos que o cercam ou pelas demonstrações alucinadas de seguidores de ocasião. É doloroso perceber que os projetos apresentados nas campanhas eleitorais, com vistas a convencer-nos a depositar nosso voto nas urnas eletrônicas, são meras peças publicitárias, talhadas para aquele momento. Valem tanto quanto uma nota de sete reais.

Tão logo o mandato se inicia, aqueles planos são paulatinamente esquecidos diante das dificuldades políticas por implementá-los ou mesmo por outros mesquinhos interesses. Os assessores leais — escravos modernos — que sussurram os conselhos de humildade e bom senso aos eleitos chegam a ficar roucos. Alguns deixam de ser respeitados. Outros, abandonados ao longo do caminho, feridos pelas intrigas palacianas. O restante, por sobrevivência, assume uma confortável mudez. São esses, seguidores subservientes que não praticam, por interesses pessoais, a discordância leal.

Sem críticos por perto, ressalta o general, “a autoridade muito rapidamente incorpora a crença de ter sido alçada ao olimpo por decisão divina, razão pela qual não precisa e não quer escutar as vaias. Não aceita ser contradita. Basta-se a si mesmo. Sua audição seletiva acolhe apenas as palmas. A soberba lhe cai como veste. Vê-se sempre como o vencedor na batalha de Zama, nunca como o derrotado na batalha de Canas. Infelizmente, o poder inebria, corrompe e destrói!

(…)

As demais instituições dessa república — parte da tríade do poder — precisarão, então, blindar-se contra os atos indecorosos, desalinhados dos interesses da sociedade, que advirão como decisões do “imperador imortal”. Deverão ser firmes, não recuar diante de pressões. A imprensa, sempre ela, deverá fortalecer-se na ética para o cumprimento de seu papel de informar, esclarecendo à população os pontos de fragilidade e os de potencialidade nos atos do César.

A população, como árbitro supremo da atividade política, será obrigada a demarcar um rio Rubicão cuja ilegal transposição por um governante piromaníaco será rigorosamente punida pela sociedade. Por fim, assumindo o papel de escravo romano, ela deverá sussurrar aos ouvidos dos políticos que lhes mereceram seu voto: — “Lembra-te da próxima eleição!”

 

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

FRONTEIRAS DA SANIDADE

 por THEODIANO BASTOS                                             

A pastora Flordelis é uma Psicopata ou e sociopata?

Ela tem uma mente perigosa, mente que engana e só quando comete um delito você vê sua verdadeira face. 

‘Separar não posso, porque ia escandalizar o nome de Deus’, escreveu Flordelis. Ela é um SÚCUBO, a forma feminina de Satanás   

Fronteira oscilante de Maudsley 

Henry Maudsley foi pioneiro da psiquiatria, com importantes contribuições para a noção de responsabilidade penal e conceito de Sociopatia, aliás defendia exatamente a noção de irresponsabilidade, insensibilidade ou imbecilidade moral, sem nenhuma outra alteração das faculdades mentais observadas em alguns infratores o conduziu à noção de "determinação genética" denominada por ele como tirania de organização (tyranny of organisation) (Skultans.[1]  

A causa do rompimento de Jung com Freud teve origem no conteúdo do livro “O EU E O INCONSCIENTE”, editora Vozes, no qual C.G. Jung consegue provar que o inconsciente tem autonomia e consegue levar uma pessoa a cometer atos contrários a seu consciente, enquanto Freud afirmava que o inconsciente não tem esse poder. 

Canto de Osssanha de Baden Powell e Vinícius de Moraes. 

O homem que diz "dou" não dá, porque quem dá mesmo não diz

O homem que diz "vou" não vai, porque quando foi já não quis

O homem que diz "sou" não é, porque quem é mesmo é "não sou"

O homem que diz "tô" não tá, porque ninguém tá quando quer

Coitado do homem que cai no canto de Ossanha, traidor

Coitado do homem que vai atrás de mandinga de amor 

POR DENTRO DA MENTE DA FAMÍLIA FLORDELIS

Leia o íntegra que segue, publicada na ISTOÉ: Antônio Carlos Prado, https://istoe.com.br/por-dentro-da-mente-da-familia-flordelis/

Ao adotarem crianças em série e instrumentalizá-las para um projeto messiânico e político, a deputada e seu marido agiram como atuam líderes de seitas — deixaram que cada filho fosse crescendo sozinho e com seu próprio repertório emocional

A deputada federal e cantora gospel, Flordelis dos Santos Souza, e seu marido, o pastor Anderson do Carmo Souza, não adotavam filhos – colecionavam-nos. Isso explica, embora jamais justifique, o assassinato do pastor, segundo a polícia, por integrantes dessa exageradamente numerosa família. Quatro desses filhos são biológicos (três ela teve com o primeiro marido e um com o segundo), e cinquenta e um são adotivos: ao todo, cinquenta e cinco, portanto. Os muito românticos talvez vejam na atitude de Flordelis, que determinava as adoções, o puro sentimento de altruísmo. Engano.

Flordelis foi tema de filme com Bruna Marquezine; Thiago Martins lamenta: ‘Me sinto enganado’

Na mais precisa definição do altruísta, o pensador Auguste Comte explicou que se trata de “inclinação instintiva”, com a vital ressalva de que “tal impulso jamais pode virar egoísmo”. Esse segundo aspecto o casal não observou, os adotados sempre foram exibidos como troféus de um projeto combinando política e messianismo, na linha de que não basta fazer o bem mas é imprescindível mostrar que se está fazendo o bem – a religião em si nada tem a ver com isso, o problema é o projeto que dela se faz: geralmente explosivo e desaguando em tragédias pessoais ou sociológicas. Pode ser que Flordelis se colocasse empaticamente no lugar das crianças psicossocialmente vulneráveis que ela adotava. Mas é preciso muita racionalidade nesses casos, sobretudo vivendo-se no Rio de Janeiro, cidade na qual os laços éticos há muito tempo o mar levou – perdão, agora eu é que estou sendo romântico, o correto é que há muito tempo os governantes levaram. Combine-se, então, pretensões políticas, intenções de notoriedade por meio da fé messiânica e a anomia do Rio de Janeiro, e tem-se o caso de Flordelis e Anderson. Tome-se o Velho Testamento: nele, ninguém teve mais filhos que Gideão – setenta ao todo! Um deles, Abileque, matou os outros sessenta e nove. Ciúme. Falta de atenção para com ele. Disputa de poder.

“Imagina o ambiente de confusão e guerra emocional contido nessa família”, declarou o pastor Caio Fábio D’Araújo Filho. “Não se pode sair pegando filhos em série porque se corre o risco de criar pequenas gangues familiares”. Como se vê, ainda que o casal fosse um poço de boa vontade, fez tudo errado. O certo teria sido montar uma creche com médicos, psicólogos, assistentes sociais e monitores, jamais tomar meninos e meninas como filhos. O pastor Anderson foi assassinado com trinta perfurações na madrugada de 16/06/20, dentro de sua casa, no bairro de Pendotiva, em Niterói. Logo após o sepultamento, a polícia prendeu Flávio, filho biológico, e Lucas, adotado. Flávio confessou ter atirado seis vezes em Anderson, Lucas foi quem comprou a arma. Ainda segundo a polícia, todos os cinquenta e cinco filhos e também a deputada são suspeitos e serão investigados, até porque surgiu a denúncia de que ela e três filhas estariam colocando medicamentos na comida do pastor. As autoridades seguem as linhas de investigações de crime com cunho passional (Anderson tinha nove perfurações na região genital); crime motivado por dinheiro; crime motivado pelo fato de Anderson ter assumido a frente de Flordelis no PSD.

Enfim, essas são questões da competência policial. Voltemos ao mergulho no universo psíquico, emocional e social da família, mergulho na cabeça dos que lá vivem, mergulho na obscura dinâmica (ou não dinâmica!) de uma família marcada por aquilo que um dos maiores psicanalistas de todos os tempos, Jacques Lacan, diagnosticaria como a “ausência da linguagem”, indispensável à construção dos indivíduos. Em toda família, mesmo nas padrões (mulher, marido e dois filhos), sempre há, geralmente de forma inconsciente, uma dose de tensão, ensinou o fundador da psicanálise, Sigmund Freud.

A história de Flordelis (simbolicamente representativa da Íris como descreveu Mirande Bruce-Mitford em “Signos e Símbolos”, lembrando que o rei Luís VII valia-se de tal flor para selar as suas missivas), começa em 1994. 

A Flor de Lis da nobreza parisiense virou a Flordelis da Favela do Jacarezinho, imortalizada em música de Jorge Ben Jor. Ela acolheu trinta e sete crianças que sobreviveram a um massacre na Cental do Brasil, sua atitude foi às telas do cinema, mas atrás veio a Justiça: mantinha a criançada em um local de dois cômodos. Flordelis mudou-se para instalações em lugar levemente melhor no Irajá, e, já casada com Anderson, enfrentou novos problemas judiciais. Recebeu a ajuda de um empresário e, dessa vez, foi para um apartamento. Finalmente, estabeleceu-se com os cinquenta e cinco filhos em Niterói. Nesse meio tempo, em 1999 ela fundou a Comunidade Evangélica Flordelis, em 2002 inaugurou a igreja do casal e tentou em vão eleger-se vereadora. No ano passado fez-se deputada federal, a quinta mais votada no Rio de Janeiro com duzentos mil votos. Anderson então teria assumido, contra a vontade dela, a sua agenda política, fazendo reuniões em Brasília sem a presença da esposa parlamentar. A política e o messianismo estavam claros demais.

O repertório emocional de cada um

Se tudo era de fato voltado para tal projeto, não resta dúvida de que as crianças, desde muito cedo, se sentiram instrumentalizadas – até porque a divulgação das adoções ajudavam a carreira artística de Flordelis. Já portadoras de carências emocionais, foram se desestabilizando ainda mais numa comunidade sem nexo e sem relação afetiva parental. Dois especialistas consultados por ISTOÉ no campo da psiquiatria mas que não querem seus nomes revelados por questões éticas devido ao fato de não terem conhecido os filhos pessoalmente, dizem, no entanto, não terem dúvidas de que, ali, um irmão podia se dar bem com o outro, mas já se daria mal com um terceiro, o mesmo ocorrendo em relação ao pai e à mãe, e isso foi se alastrando por todos – da mesma forma que ocorre em seitas que se tornam belicosas e perigosas. A dramaticidade, o subterfúgio, a mentira, a omissão, tudo fica latente. A linguagem já não mediatiza as relações carentes de sólido amparo amoroso. “Quando foram adotadas, ainda crianças, elas podem ter trazido histórico de abusos, agressões e frustrações, nem sempre visíveis. Se os pais foram incoerentes com os princípios que cobraram, os filhos hoje talvez apresentem transtornos afetivos e comportamentais. Assim, criamos os nossos próprios algozes”, afirmou a psicóloga Marisa Lobo.

Um ponto importante a ressaltar: isso independe de ser filho biológico ou adotivo. Não se trata, em hipótese alguma, de dizer que a adoção é arriscada. Ao contrário: ela tem de ser estimulada no Brasil. Errado é não dar suporte que atenda às carências nutricionais, amorosas e emocionais de uma criança. “O problema não são filhos adotivos. O problema é a formação estrutural da família”, diz Roselle Soglio, que segue uma metodologia psicossocial como uma das mais conceituadas peritas criminais do Brasil. “Não importa se é filho natural ou adotado, o que conta são as relações interpessoais mal resolvidas”. As mais modernas teorias da neurociência são unânimes em conceber a personalidade como uma constante dinâmica entre o temperamento (genético) e o ambiente, funcionando, o segundo, como modulador do primeiro. Estudos comparativos mostram que, muitas vezes, um casal não transgressor, que tem um filho biológico e um filho adotivo sem que tenha sequer conhecido os pais dessa criança, acaba vendo o filho biológico delinquir e o adotivo se tornar um grande profissional. Também ocorre o inverso. Em suma, filhos educados no mesmo ambiente podem possuir índoles diferentes. No caso de Flordelis, o filho que admitiu o assassinato é biológico, o filho que comprou a arma é adotivo.

O mesmo ambiente não modulou a genética herdada nem a genética adotada. E deixou claro que cada criança foi crescendo sozinha com seu próprio repertório emocional.

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

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