Por THEODIANO BASTOS
Ela é a astronauta que quebrou o "teto de vidro".
E foi além.
Eileen Collins fez história ao se tornar a primeira
mulher a pilotar e comandar uma nave espacial da
Nasa. Mas, apesar de seus feitos marcantes, sua trajetória é pouco
conhecida pelas pessoas.
Agora, um documentário que narra sua trajetória pioneira,
chamado Spacewoman ("Mulher do Espaço", em tradução
livre, sem previsão de estreia nos cinemas brasileiros), busca mudar essa falta
de reconhecimento popular.
A BBC conversou com Collins no Museu da Ciência, em
Londres.
Ela fala com suavidade, é acolhedora e tem os pés no
chão, mas logo se percebe sua concentração e determinação. Há firmeza por trás
da voz calma.
"Eu estava lendo um artigo sobre os astronautas
do programa Gemini [conduzido pela Nasa entre 1961 e 1966]. Eu devia ter uns
nove anos e pensei: isso é a coisa mais incrível do mundo. É isso que eu quero
fazer", conta.
"É claro que, naquela época, não havia mulheres
astronautas. Mas pensei: vou ser uma mulher astronauta."
'Não era só sobre mim'
Aquela garotinha, porém, sonhava ainda mais alto:
queria estar no comando de uma nave espacial.
E a única forma de conseguir isso era entrar para as
Forças Armadas e tornar-se piloto de testes.
Na Força Aérea, Collins se destacou e foi selecionada
para integrar o programa de astronautas. Ela pilotaria ônibus espaciais, como
são chamados os "aviões espaciais" da Nasa.
Collins sabia que os olhos do mundo estavam sobre ela
quando sua primeira missão decolou, em 1995.
"Como primeira mulher a pilotar o ônibus
espacial, trabalhei muito porque não queria que as pessoas dissessem: 'Olhem, a
mulher errou'. Não era só sobre mim, era sobre as mulheres que viriam
depois", conta.
"E eu queria que a reputação das mulheres piloto
fosse: 'Ei, elas são realmente boas'."
Ela era tão competente que logo foi promovida a
comandante, outro feito inédito.
Collins também era mãe de dois filhos pequenos. O
fato de ser esposa, mãe e astronauta era frequentemente mencionado nas
coletivas de imprensa da época, e alguns jornalistas pareciam surpresos com a
ideia de que ela pudesse ser as três coisas ao mesmo tempo.
Mas Collins diz que ser mãe e comandante foram
"os dois melhores trabalhos do mundo".
"Vou dizer uma coisa: é mais difícil criar uma
criança do que comandar ônibus espacial", brinca.
"O melhor treinamento que já tive para ser
comandante foi ser mãe, porque você aprende a dizer não às pessoas."