terça-feira, 20 de novembro de 2018

BRASIL: RAÍZES DA VIOLÊNCIA



Raízes da violência extrema no Brasil: o que leva jovens a matar sem motivo aparente?
por Thiago Guimarães - Da BBC Brasil em São Paulo
Adolescentes recapturados após fuga de unidade de internação no Distrito Federal em 2015; estudo analisou formação de jovens violentos
Dois grupos de jovens de idade semelhante, todos homens, pobres e criados na mesma região. Um grupo vira matador e o outro, trabalhador. Por quê?
O sociólogo Marcos Rolim procurou essa resposta ao investigar a violência extrema, aquela que mata ou fere mesmo quando não há provocação nem reação da vítima. Modalidade que, acredita ele, está em alta no Brasil.
Em experimento inédito no país, ele entrevistou um grupo de jovens violentos de 16 a 20 anos que cumpriam pena na Fase (Fundação de Atendimento Socioeducativo) do Rio Grande do Sul. Ao final, pediu que indicassem um colega de infância sem ligação com o crime e foi atrás dessas histórias.
Rolim esperava que prevalecessem, no grupo dos matadores, relatos de violência familiar e uso de drogas, mas outro fator se destacou: a evasão escolar (quando o aluno deixa de frequentar a escola). E, aliado a isso, a aproximação com grupos armados que "treinam" esses jovens a serem violentos.
Entre os que cumpriam pena, todos, sem exceção, tinham largado a escola entre 11 e 12 anos. E citavam motivos banais: são "burros" e não conseguem aprender, a escola é "chata", o sapato furado era motivo de chacota. Os colegas de infância continuavam estudando.
Ao comparar esses e outros casos (111 ao todo), incluindo dois grupos de presos jovens do Presídio Central de Porto Alegre, uns condenados por homicídio e outros por receptação, e alunos de uma escola de periferia sem histórico criminal, concluiu que o chamado "treinamento violento" respondeu por 54% da disposição para a violência extrema.
Em outras palavras, isso significa que sem a experiência do "treinamento violento" - aquela que ensina a manusear armas, bater antes de apanhar e exalta atos de violência - a disposição para esses crimes extremos cairia para menos da metade nos casos analisados.
As conclusões de Rolim, que foi vereador em Santa Maria (1983-1988), deputado estadual (1991-1999) e deputado federal pelo PT gaúcho (1999-2003) e hoje não tem filiação partidária, estão no livro recém-lançado A Formação de Jovens Violentos - Estudo sobre a Etiologia da Violência Extrema (editora Appris).
Direito de imagem Ramon Moser/Reprodução Image caption Tese de doutorado em Sociologia de Marcos Rolim, publicada em livro, investigou a formação de jovens violentos no Brasil
"Muitos meninos que se afastam da escola são, de fato, recrutados pelo tráfico de drogas e são socializados de forma perversa. E isso provavelmente deverá se repetir se a pesquisa for reproduzida em outros locais, pois a diferença estatística foi muito forte", diz Rolim à BBC Brasil.
A conclusão prática, segundo o sociólogo, é que a prevenção da criminalidade deve levar em conta a redução da evasão escolar, aspecto que costuma ser negligenciado no Brasil quando o assunto é segurança pública.
Considerados os índices de evasão escolar, o cenário no Brasil seria, de fato, favorável à violência extrema.
Em 2013, por exemplo, uma pesquisa do Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) mostrou que um a cada quatro alunos que inicia o ensino fundamental no país abandona a escola antes de completar a última série.
O Brasil figurava no estudo com a terceira maior taxa de abandono escolar entre os 100 países de maior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), atrás apenas da Bósnia e Herzegovina e do arquipélago de São Cristóvão e Névis.
Razões da evasão
E por que as escolas não conseguem manter esses jovens na escola?
Embora o assunto não tenha sido foco da pesquisa, Rolim arrisca algumas possíveis explicações, a partir do contato com colegas que desenvolvem pesquisas em instituições de ensino.
A primeira, diz, é o despreparo de professores para lidar com alunos mais vulneráveis e problemáticos.
"O jovem de área de exclusão, que nunca abriu um livro e tem pai analfabeto, tem toda uma diferença de preparação, e grande parte dos professores não está preparada para lidar com ele", afirma.
Direito de imagem Karine Viana/Palacio Piratini Image caption Fase (Fundação de Atendimento Socioeducativo) do Rio Grande do Sul; internos abandonam escola cedo, aponta pesquisa
Rolim cita como exemplo um caso recente registrado em Porto Alegre.
"A pesquisadora presenciou uma cena de indisciplina de um aluno de 10 anos em uma turma pequena; a professora conhecia todos. Ela disse ao menino: 'Tu vai ser bandido como seu pai'. Esse tipo de reação é inaceitável", conta.
Outra possível causa, segundo Rolim, está na falta de conexão das escolas com as comunidades em regiões violentas.
"Pelo medo do crime, a escola deixou de se relacionar com as comunidades nas periferias. Transformaram-se em bunkers com grades, cadeados, polícia na frente. Não prestam serviços, não abrem aos finais de semana, pais e parentes não a frequentam."
O terceiro problema seria a própria educação oferecida na escolas públicas.
"Basicamente, a mesma de 50 anos atrás", afirma o sociólogo.
"Hoje é impossível lidar com crianças conectadas, mesmo as mais pobres, do mesmo jeito. A escola se tornou espaço de pouco interesse e atração para o jovem das periferias", acrescenta.
Violência futura
Em 2015, último dado disponível, o Brasil registrou 170 assassinatos por dia - foram 58 mil homicídios naquele ano, número mais alto do que os de países em guerra. A taxa daquele ano, de 29 casos por 100 mil habitantes, insiste em não baixar.
Na visão de Rolim, o Brasil está "contratando violência futura" em escolas, prisões e nas próprias instituições policiais.
Nas prisões, isso se dá, segundo ele, pela reclusão por crimes patrimoniais.
Dados do governo mostravam que, ao final de 2014, 66% da população carcerária brasileira estava atrás das grades por crimes de drogas, roubos ou furtos - casos de homicídios eram apenas 10%. Jovens negros e de baixa escolaridade são maioria.
"Temos um perfil de encarceramento que não pega autores de crimes mais graves, e pegamos um monte de jovens pobres na periferia, pequenos traficantes e usuários, e vamos recrutando essas pessoas para as facções que atuam nos presídios", diz Rolim, para quem o Estado brasileiro é o "principal recrutador de mão de obra para as facções criminosas".
Direito de imagem Agência Brasil Image caption Rebelião em presídio no Rio Grande do Norte; para pesquisador, prisões de jovens pobres da periferia flagrados com drogas e armas não surtem efeito positivo na segurança pública
E os homicídios continuam em alta - estudo recente do Fórum Brasileiro de Segurança Publica mostrou, por exemplo, que um em cada três brasileiros diz ter parente ou amigo vítima de assassinato - porque falta investigação e foco dos governos nesse problema, opina o pesquisador.
"A redução dos homicídios não é a prioridade número 1 em nenhum lugar do Brasil. Como grande parte das vítimas é pobre, não há pressão social para investigação. E você lança uma mensagem de que o crime compensa", afirma Rolim. Estudos costumam apontar que menos de 10% dos homicídios no Brasil resultam em condenação.
O investimento, avalia o especialista, deveria ser reforçado na repressão a homicídios e a crimes sexuais.
"E se for para continuar a política de repressão ao tráfico, temos que ir atrás de financiadores, rotas e usar muito mais inteligência do que em prisões em flagrante", argumenta.
Iniciativas de resultado
No meio do que classifica como "desgraça geral" das políticas de segurança no Brasil, Rolim destaca iniciativas voltadas a jovens que mostraram bons resultados na prevenção da violência.
O POD (Programa de Oportunidades e Direitos) RS Socioeducativo, criado em 2009 no Rio Grande do Sul, atende jovens infratores de 12 a 21 anos que deixam o sistema de internação.
Cada jovem passa a receber, por um ano, uma bolsa de meio salário mínimo (R$ 468,50), vale-transporte e alimentação, desde que frequente cursos de formação em áreas como informática, mecânica e manutenção predial.
Segundo o governo gaúcho, a cada dez jovens atendidos pelo programa, apenas três reincidem no crime.
No entanto, Rolim acredita que iniciativas semelhantes ainda sejam pouco divulgadas.
"A população gaúcha, por exemplo, pouco sabe da existência desse programa, porque gestores ficam provavelmente com medo de divulgar e serem criticados por 'estarem dando dinheiro a bandidos'", diz.
"Essa ideologização do tema da segurança pública é outro lado tenebroso dessa história; você acaba perdendo a capacidade de execução de políticas no setor", acrescenta.
A cidade de Canoas, na Grande Porto Alegre, criou o programa Cada Jovem Conta, que procura identificar jovens de escolas públicas com comportamento de risco para ações de prevenção à violência.
O jovem passa ser acompanhado por uma equipe de diferentes secretarias, como saúde, educação e assistência social, para que frequente atividades esportivas e culturais, entre outras.
A prefeitura de Canoas afirma que mais de 60% dos jovens atendidos melhoraram o desempenho escolar ou voltaram à escola, e suas famílias passaram a frequentar mais os serviços públicos locais.
Neste mês, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou um projeto do senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) que altera o Estatuto da Criança e do Adolescente para elevar de três para oito anos o tempo máximo de internação para jovens infratores.
A medida, que ainda deverá ter mais uma votação na comissão antes de ir à Câmara, valeria para atos infracionais análogos a crimes hediondos - como estupro e homicídio - cometidos com uso de violência ou grave ameaça.
Rolim diz concordar com o aumento do tempo de internação para um "perfil restrito de jovens" reincidentes, mas criticou a associação com crimes hediondos, que no Brasil incluem o tráfico de drogas.
"Isso colocaria a maioria dos jovens sob a possibilidade de (cumprir) oito anos de pena. Hoje se um jovem der um cigarro de maconha a outro, for flagrado e o ato for equiparado a tráfico, é crime hediondo. Elevar o tempo de internação não é problema, mas estabelecer isso para crimes hediondos é uma impropriedade absoluta", conclui.Fonte: http://www.bbc.com/28/0517  

terça-feira, 13 de novembro de 2018

UM NOVO BRASIL É POSSÍVEL?


            UM NOVO BRASIL É POSSÍVEL?
                                THEODIANO BASTOS

  O povo brasileiro parece procurar um Messias. A expectativa de um messias é um modismo comum que ocorre em países com alto índice de desigualdade social, baixo grau de escolaridade da população e descrédito das instituições ou tremendamente injustos como é o caso do Brasil, onde existe a fantasia de que cada parto, se esteja dando a luz a um messias... Elegeram Getúlio Vargas em 1950 vendo nele o “Pai dos Pobres” e que deixou a presidência cometendo suicídio em 24.08.1954. Elegeram Jânio Quadros em 1960 e que renunciou em 08.08.1961 como Homem da Providência e depois em 1989 elegeram Fernando Collor de Mello como o Salvador da Pátria e na quarta tentativa elege como Presidente da República Luís Inácio Lula da Silva como o Messias, O Operário Salvador, e que consto no livro de minha autoria O Triunfo das Idéias. “Quanto mais um país depende de pessoas, e não de instituições, menos republicano ele é”, diz Roberto Romano, da Unicamp.
   É um desafio neste mundo conturbado e preso à síndrome do medo, desejar-se mudanças profundas. O Brasil precisa é de Estadista com “E“ maiúsculo, não de um messias, que convoque uma Assembléia Geral Constituinte exclusiva, EM 2014, isto é, que seja dissolvida após a promulgação da nova Constituição, e que seus membros não concorram nas eleições gerais de 2018, único jeito de aprovação das reformas políticas, fiscal e tributária, trabalhista e sindical, o que propiciará a execução de projeto ambicioso de “engenharia social” no Brasil, preservando-se do Estado Democrático de Direito que dêem outro rumo ao Brasil no interesse das maiorias sempre marginalizadas e excluídas” Mas é preciso que se entenda que não se consegue fazer o que queremos mas o que podemos ou que nos deixam fazer, pois o terreno é minado. Em 2005, 20 mil famílias ganharam R$ 105 bilhões, graças aos juros obscenos que o governo do PT pagou, ao passo que apenas R$ 7 bilhões para os 8 milhões para os 8 milhões de beneficiários das bolsas-esmolas, segundo Márcio Pochmann. Quem comanda o mundo? Responde Leonardo Boff: Com a autonomização da economia e o enfraquecimento dos estados-nações é ilusório pensar que os presidentes eleitos sejam os que têm o comando sobre o país. Quem decide os destinos reais do povo não é o presidente, mas o Ministro da Fazenda e Presidente do Banco Central que por sua vez são reféns do sistema econômico-financeiro mundial a cuja lógica se submetem. Os donos do mundo estão sentados atrás dos bancos, são os que controlam os mercados financeiros, as taxas de juros, as infovias de comunicação, as tecnologias biogenéticas e as indústrias de informação, conclui.
    “A ganância tomou o lugar do caráter; o lucro e a vitória passaram a ser desculpas para todos os crimes; a publicidade deu uma surra nas artes; os escritores foram vencidos pela mídia”. E Sílvio de Abreu, autor de novelas famosas da Globo, como Belíssima, seu último sucesso, em entrevista nas páginas amarelas de  VEJA de 21/06/06, diz: “A moral está torta; a esperteza desonesta é vista como um valor. O simples fato de o presidente Lula dizer que não sabia de nada e não viu as mazelas trazidas à tona pelas CPIs e pela imprensa basta  — as pessoas fingem que acreditam porque acham mais conveniente que fique tudo como está.  O nível intelectual do brasileiro está abaixo do que era nos anos 60 e 70, porque as escolas são piores e o estudo não é valorizado. O valor não é mais fazer algo dignificante. As pessoas querem subir na vida, e dane-se o resto”, conclui.
  A prioridade nesse novo Brasil deverá ser a educação, privilegiando-se o ensino fundamental e médio, com os estudantes em dois turnos nas escolas. Nesse novo mundo possível, os jovens têem de se conscientizar que diminuirá significativamente o trabalho formal, a era do garantismo, da carteira assinada, isto é contrato com direitos, condições fundamental para ser cidadão, sujeito de direitos, vai ser cada dia mais difícil. Prevalecerá no futuro o cidadão com: “O espírito empreendedor, a capacidade de se automotivar, autoliderar, autogerenciar, autoliderar são ferramentas indispensáveis. Se não tem trabalho para mim, eu tenho de criar esse trabalho -–essa é a idéias. Ter olho para perceber oportunidades, ter visão. O desencanto com a falta de emprego no mundo, que tende a se agravar, gera instabilidade, insegurança, desmotiva muitos jovens”, alerta Maria Tereza Maldonado, em entrevista a Istoé de 24/04/06. O mercado de trabalho está exigindo autodisciplina, empreendedorismo, capacidades de tomar iniciativas, a gerenciar o tempo. Isto traz a necessidade, desde cedo, de trabalhar nas crianças o espírito empreendedor, a tomar iniciativa, a trabalhar em equipe, e é dentro de casa que tudo que tudo se inicia, continua ensinando Maria Maldonado.
                       Longe de gerar mais igualdade, e integração social, a Globalização provocou ampliação dos setores vulneráveis e dos excluídos, com diferença de oportunidades e acesso desigual às oportunidades de emprego, educação, saúde e proteção social, por isso coexiste uma sociedade de risco. Clama-se por un novo contrato social, sem imitar as inovações dos países do Norte, mas que o sistema de ciência e tecnologia deva abrir-se às preocupações sociais, reorientando-se  para o desenvolvimento econômico solidário, de face humanística , que  integre  as universidades, o governo, os empresários, as instituições financeiras e os cidadãos.    
                           O “fundamentalismo mercantil” de que falava Celso Furtado é quem está impondo a ordem no mundo. Filósofos do mercado, a terra dos iluminados banqueiros... O sistema financeiro conseguiu acorrentar a democracia, e democracia deve deles livrar-se, mediante a Justiça, a fim de continuar a ser construída. A humanidade não pode ficar à mercê dos que, controlando o dinheiro, pretendem controlar o poder político – como ocorre nos nossos dias, denuncia Mauro Santayana em sua coluna Almanaque (JB 24/09/05, pág. A2) A democracia está à espera dos que possam reinventá-la. “A falta de horizontes para os jovens profissionais é trágica, levando nossos filhos ao desalento ou a tentar a vida no exterior. Muitos têm sua adolescência prolongada, não por preguiça ou inépcia, mas porque não conseguem se firmar no mercado de trabalho, mesmo com talento, preparo e títulos. Não é por nada que alguns começam a pensar: é realmente importante ter diploma, competência e honradez?”, diz Lia Luft (Veja, 19/10/05 pág. 22).
                   O violento êxodo rural fez inchar as periferias das cidades, onde grassa o desemprego, a falta de expectativa de vida dos jovens, a desesperança e a desestruturação das famílias, tornaram o Brasil um dos países mais violentos do mundo, principalmente a partir da década de 80 com a deterioração social, ética e moral.  Mauro Santayana em seu artigo O difícil desembarque (JB 11/02/06 pág. 2: “Nas periferias das grandes cidades e nos morros, as escolas estão sendo substituídas, pouco a pouco, pelos traficantes e contrabandistas que, astutamente, passaram a assumir o poder político, oferecendo, ao mesmo tempo, a ordem e a solidariedade. A ordem contra as leis republicanas, contra os princípios de convivência que a razão ocidental construiu ao longo da História. São pequenos tiranos, que torturam, condenam e matam os que desafiam seus interesses e sua autoridade, mas asseguram tranqüilidade aos neutros” Desenvolveram a pedagogia do crime que se alastra, e passaram a cooptar  jovens da classe média. Também Paulo Blank, em artigo na revista Domingo do Jornal do Brasil, diz: “Nesse  nosso paraíso da artificialidade, por baixo do ar bonachão que os estrangeiros dizem que ostentamos, vem fermentando a hipocrisia do homem cordial. Mas, agora, quando a trama social vem se esgarçando a olhos vistos, o que surge é a violência real e simbólica que ficava escondida sob o mando paternalista de relações supostamente tranqüilas”. O que se vê nas grandes cidades do Brasil é a explosão da brutalidade no varejo de nossas vidas de cidadão desprotegido que exteriorizou o medo que agora conhecemos em todos os andares da sociedade, completa.

UM NOVO MUNDO É POSSÍVEL?




                             

   UM NOVO MUNDO É POSSÍVEL?
                                               Theodiano Bastos

                                 Tenho repetido nos livros de minha autoria A Procura do Destino e O Triunfo das Idéias, em artigos, e onde mais posso, as obras de Erich Fromm, principalmente "A Revolução da Esperança" e "Ter ou Ser?", nelas encontramos luzes: "Creio que nem o capitalismo ocidental nem o comunismo soviético (que já faz parte do passado) — ou chinês, podem resolver o problema do futuro. Ambos criam burocracias que transformam o homem numa coisa". “O homem deve colocar as forças da natureza e da sociedade sob o seu controle consciente e racional, mas não sob o controle de uma burocracia que administra coisas e homem, mas sob o controle dos produtores livres e associados que administram coisas e as subordinam ao homem, medida de todas as coisas”.
                            “O homem pode destruir toda a vida civilizada e os valores que restarem e construir uma organização bárbara, totalitária, que domine o que sobrar da humanidade. Ter consciência desse perigo, analisar as expressões dúbias por ambos os lados para impedir que os homens vejam o abismo para onde estão marchando, é obrigação, o mandamento intelectual e moral que o homem deve obedecer hoje. "Se não o fizer, seu fim será certo", alerta Erich Fromm.
                            A resposta para o problema da liberdade não será encontrada na mudança da forma política de governo, mas na transformação econômica e social da sociedade. Mudanças simultâneas na esfera da organização industrial e política da estrutura do caráter e das atividades culturais. A concentração dos esforços em qualquer uma dessas esferas com a exclusão ou negligência de qualquer das outras, tem ação destrutiva sobre toda a modificação, continua ensinando Fromm, que conclui: "Um passo de progresso integrado em todas as esferas da vida, terá resultados de maior alcance e mais duradouros para o progresso da raça humana, do que cem passos numa só direção". Hoje, com os recursos disponíveis no Brasil na área de comunicação social de massa, e principalmente a televisão e o rádio, como também jornais e revistas, com o que é possível atingir até cidadãos analfabetos, hoje bem informados  do que acontece no Brasil e no mundo, com seu radinho a pilha, não é ser sonhador pensar que já se pode dar no Brasil um passo decisivo para o fim da história "humanóide", na qual o homem ainda não é completamente humano, mas ainda "O lobo do próprio homem", na visão pessimista de Hobbes.
                              A mídia vem sendo usado para tornar as criaturas infelizes com o que possuem, impingindo uma sociedade de consumo com o uso da propagando subliminar, a saturação psicológica inconsciente de nossas crianças. As empresas do futuro, numa "nova síntese", ficarão com a iniciativa privada, mas de natureza comunitária de fins comuns, que tenham de viver do lucro, porque sem lucro não sobrevivem, mas cujo fim não seja o lucro em si, mas a prestação de serviços públicos. O mundo se tornou uma imensa aldeia e a interdependência dos países é de tal ordem, tão estreita, que quando se fala do destino do Brasil, também se fala do destino de Gaia, a nave mãe Terra em viagem pelo espaço sideral, e creio que o Brasil tem um grande destino a cumprir na história da humanidade, na sobrevivência da espécie humana, com possibilidade de criar as condições que apontem para um futuro de convivência mais fraterna. Todavia  se observa e nos faz refletir, é a atual ausência de reações por parte dos jovens diante do que se vê nesse descomunal descalabro no Brasil dos nossos dias. Alienação, desesperança, egoísmo, dos jovens?  “Como explicar e compreender os jovens brasileiros diante do descomunal descalabro que está marcando a realidade brasileira. É voz corrente que jamais, em tempo algum da história brasileira”?, pergunta a escritora Raquel Stivelman, em seu artigo Jovens: ontem e hoje. (JB 08/4/06 p.All). 
                              André Malreaux diz: "A civilização atual está ocupada, provavelmente, em inventar algo tão importante quanto o que o século XIX inventou. Mas não sabemos exatamente o que é. É o ponto de passagem com as três hipóteses para o futuro da humanidade: a) Uma grande tragédia; b) Um grande fenômeno espiritual (não necessariamente religioso); c) Uma espécie de "terra de ninguém", como a que já é habitada pelos especialistas". Almeja-se uma globalização solidária: "Esse novo projeto crítico da sociedade não pretenderia mais mudar o modo de produzir — do capitalismo para o socialismo — mas procuraria universalizar direitos e bens dentro da sociedade de mercado". Mesmo sem mudanças no modo de produzir, se está buscando um aumento do bem-estar", disse ainda, citando Eric Hobsbawm, pensador inglês, e Norberto Bobbio, filósofo italiano.
                              Enfim, os humanos estão, hoje em dia, diante da escolha mais fundamental: não é a escolha entre o capitalismo e o comunismo (já reprovado pela história), mas entre o robotismo e o socialismo comunitário humanista, um socialismo com liberdade, com produtores livres e associados, que administram coisas e as subordinam ao homem, medida de todas as coisas, continua ensinando o mestre Erich Fromm, que em suma diz que estamos a ponto de atingir um estado humano correspondente à visão dos nossos grandes Mestres, tais como Lao-Tsé, Buda, Cristo, Isaías, Sócrates e Maomé, pois todos ensinaram o uso da razão, do amor e da justiça; no entanto, estamos diante do perigo da destruição da civilização, ou da robotização, e dentre deste contexto é missão do Brasil realizar essa "nova síntese". Se a Inglaterra e os Estados Unidos moldaram a economia mundial, e a França, a partir de sua revolução de 1789, se transformou em laboratório de experiências políticas, o Brasil moldará a "nova síntese" no Século XXI. "Os grandes líderes da raça humana são os que despertam o homem de seu meio-sono", diz Fromm.
                            Mas com o advento da Internet – o mundo tornou-se uma grande aldeia, com os  e-mails, Orkuts, Blogs, Chats, vlogs, os chamados instant messengers (Ims)  etc,  o ágora (da civilização grega) é agora, porquanto permite, de forma global,  uma propagação de idéias na busca de outro mundo possível. “Todo grande país se faz pelas idéias, nunca pelos acontecimentos, pois os acontecimentos têm sempre a dimensão das idéias que o produzem... os fatos, sem as idéias, não criam realidades, mas sucessivas ilusões, que trazem erros aos atos daí decorrentes.... A idéia é a verdadeira orientadora da ação política, ensina Afonso Arinos de Melo Franco. Como Gabriel Garcia Márquez, continuo obcecado pela fé na possibilidade de existirem outras formas de se viver — mais justas, menos absurdas, mais dignas.
                            Donde saiu este homem? Pergunta José Saramago: Não peço que me digam onde nasceu, quem foram os seus pais, que estudos fez, que projeto de vida desenhou para si e para a sua família. Tudo isso mais ou menos o sabemos, tenho aí a sua autobiografia, livro sério e sincero, além de inteligentemente escrito. Quando pergunto donde saiu Barack Obama estou a manifestar a minha perplexidade por este tempo que vivemos, cínico, desesperançado, sombrio, terrível em mil dos seus aspectos, ter gerado uma pessoa (é um homem, podia ser uma mulher) que levanta a voz para falar de valores, de responsabilidade pessoal e coletiva, de respeito pelo trabalho, também pela memória daqueles que nos antecederam na vida”.
Estes conceitos que alguma vez foram o cimento da melhor convivência humana sofreram por muito tempo o desprezo dos poderosos, esses mesmos que, a partir de hoje (tenham-no por certo), vão vestir à pressa o novo figurino e clamar em todos os tons - “Eu também, eu também”. Barack Obama, no seu discurso, deu-nos razões (as razões) para que não nos deixemos enganar. O mundo pode ser melhor do que isto a que parecemos ter sido condenados. No fundo, o que Obama nos veio dizer é que outro mundo é possível. Muitos de nós já o vínhamos dizendo há muito. Talvez a ocasião seja boa para que tentemos pôr-nos de acordo sobre o modo e a maneira. Para começar.

“Padrão de consumo dos países desenvolvidos não pode ser replicado”
Para onde irão os indignados e os “occupiers”?

Uma das mesas de debates importante no Fórum Social Temático, em Porto Alegre, da qual me coube participar, foi escutar os testemunhos vivos dos Indignados da Espanha, de Londres, do Egito e dos USA. O que me deixou muito impressionado foi a seriedade dos discursos, longe do viés anárquico dos anos 60 do século passado com suas muitas “parole”. O tema central era “democracia já”. Reivindicava-se uma outra democracia, bem diferente desta a que estamos acostumados, que é mais farsa do que realidade. Querem uma democracia que se constrói a partir da rua e das praças, o lugar do poder originário. Uma democracia que vem de baixo, articulada organicamente com o povo, transparente em seus procedimentos e não mais corroída pela corrupção. Esta democracia, de saída, se caracteriza por vincular justiça social com justiça ecológica.

Curiosamente, os indignados, os “occupiers” e os da Primavera Árabe não se remeteram ao clássico discurso das esquerdas, nem sequer aos sonhos das várias edições do Fórum Social Mundial. Encontramo-nos num outro tempo e surgiu uma nova sensibilidade. Postula-se outro modo de ser cidadão, incluindo poderosamente as mulheres, antes feitas invisíveis, cidadãos com direitos, com participação, com relações horizontais e transversais facilitadas pelas redes sociais, pelo celular, pelo twitter e pelos facebooks. Temos a ver com uma verdadeira revolução. Antes, as relações se organizavam de forma vertical, de cima para baixo. Agora é de forma horizontal, para os lados, na imediatez da comunicação à velocidade da luz. Este modo representa o tempo novo que estamos vivendo, da informação, da descoberta do valor da subjetividade, não aquela da modernidade, encapsulada em si mesma, mas da subjetividade relacional, da emergência de uma consciência de espécie que se descobre dentro da mesma e única Casa Comum; Casa em chamas, ou ruindo pela excessiva pilhagem praticada pelo nosso sistema de produção e consumo.

Essa sensibilidade não tolera mais os métodos do sistema de superar a crise econômica, e as crises dela derivadas, sanando os bancos com o dinheiro dos cidadãos, impondo severa austeridade fiscal, a desmontagem da seguridade social, o achatamento dos salários, o corte dos investimentos, no pressuposto ilusório de que desta forma se reconquista a confiança dos mercados e se reanima a economia. Tal concepção é feita dogma e aí se ouve o estúpido bordão: “TINA: there is no alternative”, não há alternativa. Os sacrílegos sumos sacerdotes da trindade nada santa do FMI, da União Européia e do Banco Central Europeu, deram um golpe financeiro na Grécia e na Itália e puseram lá seus acólitos como gestores da crise, sem passar pelo rito democrático. Tudo é visto e decidido pela ótica exclusiva do econômico, rebaixando o social e aumentando o sofrimento coletivo desnecessário, o desespero das famílias e a indignação dos jovens que não conseguem trabalho. Tudo pode desembocar numa crise com consequências dramáticas.

Paul Krugmann, prêmio Nobel de economia, passou uns dias na Islândia para estudar a forma como esse pequeno país ártico saiu de sua crise avassaladora. Lá seguiram o caminho correto que outros deveriam também ter seguido: deixaram os bancos quebrar, puseram na cadeia os banqueiros e especuladores que praticaram falcatruas, reescreveram a constituição, garantiram a seguridade social para evitar uma derrocada generalizada e conseguiram criar empregos. Consequência: o país saiu do atoleiro e é um dos que mais cresce nos países nórdicos. O caminho islandês foi silenciado pela mídia mundial, por temor de que servisse de exemplo para os demais países. E assim a carruagem, com medidas equivocadas mas coerentes com o sistema, corre célere rumo a um precipício.

Contra esse curso previsível se opõem os indignados. Querem um outro mundo, mais amigo da vida e respeitoso da natureza. Talvez a Islândia servirá de inspiração. Para onde irão? Quem sabe? Seguramente não na direção dos modelos do passado, já exauridos. Irão na direção daquilo que falava Paulo Freire “do inédito viável” que nascerá desse novo imaginário. Ele se expressa, sem violência, dentro de um espírito democrático-participativo, com muito diálogo e trocas enriquecedoras. De todas as formas, o mundo nunca será como antes, muito menos como os capitalistas gostariam que ficasse.