segunda-feira, 30 de setembro de 2024

AVC CRÔNICO A NEUROREABILITAÇÃO DÁ ESPERANÇA DE MELHORAS

 

Pesquisa propõe técnica de neurorreabilitação para pacientes que sofrem com AVC crônico

Dados da Federação Mundial do AVC indicam que 13,7 milhões de pessoas sofrem Acidente Vascular Cerebral (AVC) a cada ano. As sequelas que permanecem podem alterar o quadro clínico para um AVC crônico. Nesse contexto, os pesquisadores do Laboratório de Robótica e Tecnologia Assistiva (LRTA) da Ufes desenvolveram uma técnica que usa a imaginação e dispositivos robóticos para ajudar os pacientes a recuperar seus movimentos.

O estudo utiliza sensores eletrônicos que, acoplados à cabeça do paciente, coletam sinais cerebrais gerados pelo ato de imaginar determinado movimento (eletroencefalograma). Os sinais captados induzem o movimento aos membros afetados pelo AVC por meio de um suporte robótico (exoesqueleto). Ao repetir muitas vezes essa atividade de imaginar o movimento e ter sua reprodução através do exoesqueleto, o cérebro então consegue encontrar caminhos alternativos que façam esse membro voltar a se mover.

O professor do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica e Biotecnologia da Ufes e orientador da pesquisa, Teodiano Bastos Filho, explica que em geral o AVC danifica uma área do cérebro responsável por funções motoras. A ideia consiste em estimular o cérebro a buscar outra área cerebral para voltar a controlar os movimentos. Para estimular a imaginação, a pesquisa conta com estímulos visuais proporcionados por um sistema de realidade virtual 2D. A tal modelo de tratamento se atribui o nome de neurorreabilitação.

“O diferencial da terapia é o uso da imaginação do movimento para recuperá-lo. Antes de um movimento ser executado, a mente humana o imagina. No caso das pessoas que sofreram AVC, essa imaginação ocorre normalmente, mas o membro é incapaz de realizar o comando. O que a gente faz para prender a atenção da pessoa de forma muito efetiva é, por exemplo, exibir na tela do computador alguém pegando um copo e bebendo água”, detalha o professor.

Movimentos complexos

Outra inovação é o trabalho com movimentos complexos visando a um alto grau de melhora dos pacientes. Esses movimentos são justamente aqueles presentes na vida diária, como o ato de se alimentar. Ao explorar a imaginação desses movimentos mais complexos, observou-se melhora ainda mais rápida no processo de reabilitação.

“Na literatura já há muitos estudos sobre a imagética motora simples, o movimento da mão simples, mas com esses movimentos não se exige tanto. Então, na pesquisa a pessoa tem que imaginar alcançar um copo com a mão, agarrá-lo e levá-lo até a boca, simulando que bebe alguma coisa e depois retornar o copo e a mão para as posições iniciais”, declara o estudante e pesquisador Cristian Mendez, orientado pelo professor Bastos.

Metodologia e resultados

Metodologia e resultados

O Prof. Teodiano Bastos Filho  pondera que a técnica de eletroencefalografia (EEG) com eletrodos para captar sinais elétricos do cérebro já é conhecida e usada pelos neurologistas para diagnosticar a epilepsia, por exemplo. Mas frisa que o diferencial da pesquisa é o uso do EEG para identificar a imaginação motora, sendo que o grupo de pesquisa obteve uma taxa de acerto na detecção desses sinais da ordem de 97%. Esse resultado promove as condições necessárias para o funcionamento da neuroplasticidade, capacidade do sistema nervoso central de se adaptar às novas circunstâncias.

Ainda utilizando os sinais cerebrais provindos da imaginação, o professor atua em outra pesquisa voltada à neurorreabilitação do movimento dos membros inferiores. Ele explica que, em certos casos, há até a aplicação de toxina botulínica (botox) no membro afetado, pois, devido ao AVC crônico, o membro acaba ficando rígido, não permitindo que o exoesqueleto realize o movimento induzido.

“A aplicação do botox então diminui a rigidez muscular (espasticidade), relaxando os músculos, e a pessoa consegue, por exemplo, abrir uma mão ou mover uma perna com a ajuda robótica (exoesqueleto). São resultados muito significativos, porque os pacientes pós-AVC, ao serem levados ao Centro de Reabilitação Física do Espírito Santo (Crefes), em Vila Velha, na fase aguda, levam de dois a três meses para demonstrar alguma melhora. Com nossos pacientes, esse tempo foi reduzido para duas a três semanas”, frisa o professor.

Texto: Ghenis Carlos (bolsista) Edição: Sueli de Freitas

FONTE: https://www.ufes.br/conteudo/pesquisa-propoe-tecnica-de-neurorreabilitacao-para-pacientes-que-sofrem-com-avc-cronico

 

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