quarta-feira, 3 de abril de 2024

QUEM SOU EU?

           

Por Theodiano Bastos

                             A poetisa Cecília Meireles dá uma contribuição extraordinária ao confessar a dificuldade em conhecer-se ao dizer: “Se me contemplo/Vejo-me tantas/Que não sei quem sou”. Já o também poeta Walt Whitman diz: “Eu sou contraditório, sou imenso. Há multidões dentro de mim”.  É verdade consagrada pelo tempo que a admiração é o começo da sabedoria. E a história humana registra que as melhores das energias do homem têm sido despendidas em conseguir maiores conhecimentos a respeito de si mesmo e do mundo ao seu redor. Com sua capacidade intelectual e a força de imaginação, o homem tem conseguido enxergar coisas que ainda não existem e assim conseguir chegar às grandes descobertas em todos os campos. Freud era pessimista com o homem e acreditava na sua tendência para o mal, para a destruição, não só de si mesmo como da civilização. Mas com o passar dos tempos, passou também a acreditar que o homem poderia domar sua maldade através da “sublimação”.

 

                         Mas a maioria de seus seguidores, hoje consegue provar que o homem tem dentro de si mesmo, tanto o bem como o mal, tanto forças destrutivas como construtivas. Erich Fromm, por exemplo, no seu extraordinário livro “O Coração do Homem” e sua tendência para o bem e para o mal, explica muito bem os tipos de indivíduos; os dotados de tendências destrutivas, (a necrofilia, o amor à morte) e os dotados de forças construtivas (a biofilia, o amor à vida). Karen Horney também é otimista sobre a possibilidade de o ser humano sublimar sua tendência à destruição. À beira da morte, condenado a beber a cicuta, seus discípulos angustiados perguntaram-lhe: Mestre, como o senhor resumiria toda a sua filosofia? E ele respondeu: — Conhece-te a ti mesmo para conheceres os deuses e o universo, que também consta no portal do templo de Delfos. Cristo, que como Sócrates, também não deixou  seus ensinamentos por escrito, dizia a seus discípulos: “A Verdade vos libertará”.O apelo ao mergulho dentro de si mesmo vem de milênios, desde o tempo da Grécia antiga. Em nossos dias Soren Kierkegaard dizia: “Aventurar-se causa ansiedade, mas deixar de aventurar-se é perder a si mesmo... E aventurar-se no sentido mais elevado é precisamente tomar consciência de si mesmo”. As pessoas, quando educadas para enxergarem claramente o lado sombrio de sua natureza, aprendem ao mesmo tempo a compreender e amar seus semelhantes.

 

                            Com o método da livre associação, Freud tornou possível a psicanálise, o mergulho dentro de si mesmo, tornando ciência o caminho da reorientação pelo conhecimento de si mesmo. “Uma das poucas alegrias da vida numa época de ansiedade, é o fato de sermos forçados a tomar consciência de nós mesmos”, diz Rollo May. Como a neurose é uma perturbação nas relações de um ser consigo mesmo e com o próximo, ela causa forte dose de angústia, fobias e medos difusos. Mas, se prevalecer a deliberação de modificar-se, o efeito libertador do auto-conhecimento será um alívio, pois a  determinação de modificar-se constitui, por certo, um força poderosa e valiosa, indispensável para efetuar qualquer mudança.

 

                            Mas é preciso alertar que o caminho do auto-conhecimento será árduo no processo de desilusão, mas à medida que vai descobrindo que pode realmente viver melhor sem suas desilusões, que pode viver melhor sem elas, vai-se adquirindo fé em si mesmo, conforme ensina Karen Horney nas suas obras “Conheça-se a Si Mesmo” e a “Personalidade Neurótica de Nosso Tempo”, publicados pela editora Civilização Brasileira. O ódio, por exemplo, é destrutivo. Mas há o ódio racional, reativo e o irracional, condicionado pelo caráter. O ódio racional é a reação de uma pessoa contra a ameaça à vida, liberdade ou idéias, suas ou de outra pessoa. Sua premissa é o respeito à vida e cessa de existir quando a ameaça é afastada. Já o ódio irracional, a paixão para destruir e lesar a vida, condicionado pelo caráter, difere em qualidade. É um traço de caráter, uma disposição contínua para odiar, que subsiste no íntimo da pessoa que é hostil, continua ensinando o mestre Fromm, que completa: “O objetivo da vida é nascer plenamente, mas a tragédia consiste em que a maior parte de nós morre sem ter nascido plenamente. Viver é nascer a cada instante”.

 

“Uma noite, sentados ao redor da fogueira, estavam um velho índio e seu neto.

O sábio índio estava tentando explicar ao menino de uma forma simples e fácil, sobre o combate que acontece dentro das pessoas.
 Ele disse:

-
"Há uma batalha entre dois lobos que vivem dentro de todos nós".
Um é Mau - Cheio de raiva, inveja, ciúme, tristeza, desgosto, cobiça, arrogância, pena de si mesmo, culpa, ressentimento, inferioridade,
orgulho falso, superioridade e ego.
O outro é Bom - É alegria, fraternidade, paz, esperança, serenidade,humildade, bondade, benevolência, empatia, generosidade, verdade,
compaixão e fé.
O neto pensou nessa luta e perguntou ao avô:

- " E qual o lobo que vence?"

O velho índio sabiamente respondeu:
 
- "Aquele que você alimenta!"

 

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