terça-feira, 30 de abril de 2024

JANAÍNA, HISTÓRIA REAL DE VIDA

 

Fotos do bairro da Ribeira em Salvador

Por THEODIANO BASTOS

“Confessai os vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros, para serdes curados. Muito pode a súplica fervorosa do justo.” citação Bíblica. 

A confissão funciona como uma “Catarse, uma palavra utilizada em diversos contextos, como a tragédia, a medicina ou a psicanálise. Significa "purificação", "evacuação" ou "purgação". Segundo Aristóteles, a catarse refere-se à purificação das almas por meio de uma descarga emocional provocada por um trauma., a liberação de emoções ou tensões reprimidas,

medicina e filosofia da Antiguidade grega, libertação, expulsão ou purgação do que é estranho à essência ou à natureza de um ser e que, por isso, o corrompe.

E tem mais mulheres que homens crescendo de dentro para fora. A mulher tem mais facilidade de se abrir, de contar os conflitos de seus demônios interiores. 

E Janaína tem senso de humor, por isso superou as adversidades sem sequelas.                                                     O humor “característica atraente que pode ajudar a criar conexões mais profundas com os outros. O riso é uma maneira eficaz de melhorar o humor e promover a resiliência emocional. Enfrentar desafios com um toque de humor muitas vezes torna os problemas mais fáceis de lidar.”

Janaína mora no bairro da Ribeira em Salvador e na verdade ela é um avatar criado para encobrir o nome da verdadeira pessoa que vivenciou a história. 

Theomar e Virgínia também moram na Ribeira e para surpresa de ambos encontram Janaína no ferry- boat de Salvador para a ilha de Itaparica.

Bom dia, amiga, que surpresa esse reencontro faz mais de 10 anos que não nos vemos. disse Virgínia.

Vamos ter um papo-cabeça. Me conta como vai.

Não somos o que a gente pensa que é, mas como somos percebidos por outros, disse Virgínia para sua amiga ao reencontrá-la. Você, amiga, é uma pessoa muito interessante e sortuda, uma protegida dos Orixás. Você não precisa ter vida interior pois nunca parecerá de solidão. Como vai a Vila dos Soares? O nome da comunidade familiar com 10 casas ao lado de um braço de mar, com 7 mil metros quadrados, onde Janaína mora. Sabemos que moram com você sete entes queridos, três netos que cuida, o filho mais velho e esposa e no fundo uma filha e o marido, por isso não sentiu solidão após ficar viúva. Como você está conservada, minha amiga, me conta as novidades:

Foi o gancho para Janaína revelar sua incrível história de vida para minha esposa que se sentava ao seu lado.

“Meu pai comprou o terreno na vila em 1969. Veio morar aqui numa casa de madeira uma irmã minha com 12 filhos e o marido. Ficaram 6 anos. Somos sete irmãs e cinco irmãos e meu pai sempre estava mal humorado em casa. Quanta sabedoria ele poderia nos passar.  

Em 1976 ele quis vender.  Eu tinha 1 ano de casada com um filho. Mas minha mãe não deixou ele vender.

Então meu cunhado que trabalhava na Caixa Econômica Federal me emprestou um dinheiro e aí fiz uma casinha coberta de Eternit. Vim morar aqui e os irmãos ficaram animados e foram vindos aos poucos. Demorei 11 anos para refazer minha casa. Graças a Deus!

Hoje moram na vila 32 pessoas. Já fomos mais. Mas muitos casaram, os sobrinhos, e 5 voltaram.

A vila como você sabe, minha amiga, tem até uma área para festas. Tudo muito simples. Nada de pompa. As vias não são pavimentadas e ficamos ao lado de um braço de mar.

Dia das mães faremos um almoço. Já tem 75 inscritos.  Irmãos sobrinhos netos e familiares.

Este pedaço que vou lhe contar, amiga, é muito triste e não gostamos muito de lembrar e nem contar.

Meu pai comprou esse terreno para uma amante que ele trouxe para Salvador em 1969. Ele tinha 54 anos e ela 19. Minha mãe descobriu tudo e não deixou vender.  Foi ai que vim para cá para segurar o terreno.

Ela aceitou tudo pela família. As amigas dela da igreja diziam para ela parar de economizar porque ele estava gastando com a outra. Ela respondia: Se eu gastar muito todos ficaremos mais pobres ainda. Ela e a filha e eu e meus filhos. Minha mãe era analfabeta, mas muito sábia.  Ela pediu para ele ir morar com ela e ele dizia: Da minha casa não saio. Nunca dormiu uma noite fora de casa.  Chegava sempre por volta das 10 da noite.

Deixou imóvel para a amante carro zero pra filha e casa também pra filha.

Eu tinha uns 15 anos quando ele arranjou esta mulher. Em 2000 ela o traiu. Ele era tão apaixonado por ela que ficou doente e faleceu em 2002. Não quis viver mais. Ela está viva até hoje. Minha mãe não quis que elas convivessem conosco. Pois as duas exploraram muito meu pai.

Após sua morte a trouxemos aqui para morar conosco.  Faleceu com 97 anos em 2017. Foi a felicidade dela. Ela sempre quis morar aqui, mas ele nunca quis. Dizia que nós iriamos vigiá-los”

Ao tempo que ouvia a história, Virgínia lembrava o que sua amiga sofreu.

O marido era alcoólatra e tinha falecido três anos atrás de cirrose hepática e ficou impotente cinco anos antes de morrer e por ironia do destino, o mesmo aconteceu com os maridos de outras três irmãs que moravam na mesma vila e chegamos a conhecer a moça que foi amante de Janaína, uma linda cabocla trazida de Maragogipe.  

Virgínia admirava muito sua amiga pela resiliência e por saber sublimar tanto sofrimento, permanecendo bem conservada e atraente aos 73 anos.  

A Bahia de Todos os Santos (e quase todos os pecados) já capital do Brasil até 1763. Tem 372 igrejas e já teve 35 linhas de bonde e mais de 40 cinemas de bairro. A Ribeira era o único bairro com três linhas de bonde. Salvador já teve mais de 50 cinemas de bairro e hoje tem 2.417.678 habitantes e a grande Salvador é composta por 13 municípios com 3.573.973 habitantes.

                   

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