sábado, 9 de agosto de 2025

COMP30 OBJETIVOS PARA DAR RESPOSTA À CRISE CLIMÁTICA, OPINA DANIEL PORCEL BASTOS

 



De enchentes no Rio Grande do Sul a ondas de calor em São Paulo e vendavais no litoral paulista, os impactos da crise climática se tornam cada vez mais perceptíveis. Eventos climáticos extremos expõem a urgência de preparar cidades, populações e ecossistemas para uma nova realidade. É essa a proposta da adaptação climática, um dos temas que deve ter destaque durante a 30ª Conferência das Partes (COP30) da Convenção do Clima da ONU, que será realizada em Belém, no Pará, em novembro deste ano

O que é Adaptação Climática?

Na prática, a adaptação significa desde restaurar florestas e proteger nascentes para garantir o abastecimento de água até construir sistemas de drenagem urbana para conter enchentes. Ela inclui, também, a instalação de sistemas de alerta precoce, mudanças no zoneamento urbano, criação de telhados verdes para reduzir ilhas de calor, reavaliação de moradias em áreas de risco e transição para cultivos agrícolas mais resistentes a novos padrões climáticos. Ou seja, significa preparar a sociedade como um todo para as mudanças do clima.

Enquanto a mitigação busca reduzir as emissões de gases de efeito estufa, a adaptação trata das consequências em curso. Para os países em desenvolvimento, que historicamente contribuíram menos para o aquecimento global, a adaptação é uma prioridade. São nações que enfrentam enchentes, secas, ondas de calor e eventos extremos com menos recursos para preveni-los ou reagir a eles. Embora a mitigação seja essencial para frear o aquecimento no longo prazo, a adaptação oferece respostas imediatas à realidade de milhões de pessoas.

Em cidades costeiras, como Nova York e Londres, obras de infraestrutura pesada, como diques móveis e barreiras contra tempestades, foram adotadas para conter a elevação do nível do mar. Em contextos de baixa renda, como em comunidades de países africanos ou do semiárido brasileiro, soluções baseadas na natureza, como a recuperação de canais fluviais ou o reflorestamento com espécies nativas, são formas eficazes e acessíveis de promover a resiliência à mudança do clima.

“O GGA tem três pilares que consistem em reduzir vulnerabilidades, fortalecer a resiliência e desenvolver capacidades adaptativas”, explica Daniel Porcel Bastos, especialista em políticas climáticas do Instituto Talanoa. Para que isso se torne mensurável, países estão construindo um conjunto de indicadores comuns, que deverão permitir uma visão agregada dos avanços em adaptação no mundo.

Para Gustavo Pinheiro, membro do conselho consultivo da Climate Ventures, um dos grandes desafios é, justamente, conciliar essas realidades diferentes. “Países insulares têm prioridades diferentes daquelas elencadas pelos países florestais. O mesmo acontece com nações com desertificação. O que serve como indicador para um lugar pode não fazer sentido em outro”, explica.

Segundo o PNUD, menos de 10% do financiamento climático global é destinado à adaptação, e cerca de 17% desses recursos chegam efetivamente às comunidades locais, justamente onde os impactos climáticos são mais severos. A
maior parte permanece concentrada em níveis nacionais ou institucionais. Para enfrentar essa lacuna, Gustavo Pinheiro, da Climate Ventures, defende a criação de mecanismos financeiros mais eficazes e acessíveis, como fundos dedicados à adaptação, garantias para atrair capital privado e taxas internacionais sobre setores emissores, como aviação e transporte marítimo.

Além dos recursos, a operacionalização do GGA também esbarra em questões conceituais. Um exemplo é a inclusão dos chamados ‘meios de implementação’, que são financeiros, tecnológicos e de capacitação, entre os indicadores do GGA. A medida teve forte resistência de países desenvolvidos. 

“Mesmo se conseguirmos a lista mais bonita do mundo, se não tivermos como monitorar se os indicadores realmente estão sendo implementados, essa lista não vai servir para medir a adaptação a nível global”, sintetiza Daniel Porcel Bastos.

Apesar das dificuldades, o encontro em Belém é visto como uma oportunidade para resgatar o multilateralismo climático. “O Brasil entende que o GGA é uma entrega factível e importante para reafirmar o Acordo de Paris e o multilateralismo no contexto geopolítico mais adverso em que vivemos atualmente”, diz Porcel.

Garcia, do WRI Brasil, destaca que o GGA pode servir como estrutura de referência para os países. “Ele ajuda a alinhar planos nacionais, a atrair recursos e a promover políticas mais coerentes e mensuráveis”, afirma.

“Adaptação é a ponte entre clima, pessoas e justiça social. Belém precisa inaugurar uma fase em que isso vire prioridade real com política, com dinheiro e com metas claras”, conclui Garcia.

FONTE: https://sustentavel.istoe.com.br/objetivo-global-de-adaptacao-como-a-cop30-pode-acelerar-a-resposta-a-crise-climatica

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