O que é Adaptação Climática?
Na prática, a adaptação significa desde
restaurar florestas e proteger nascentes para garantir o abastecimento de água
até construir sistemas de drenagem urbana para conter enchentes. Ela
inclui, também, a instalação de sistemas de alerta precoce, mudanças no
zoneamento urbano, criação de telhados verdes para reduzir ilhas de calor,
reavaliação de moradias em áreas de risco e transição para cultivos agrícolas
mais resistentes a novos padrões climáticos. Ou seja, significa preparar a
sociedade como um todo para as mudanças do clima.
Enquanto a mitigação busca reduzir as emissões de
gases de efeito estufa, a adaptação trata das consequências em curso. Para os
países em desenvolvimento, que historicamente contribuíram menos para o
aquecimento global, a adaptação é uma prioridade. São nações que enfrentam
enchentes, secas, ondas de calor e eventos extremos com menos recursos para
preveni-los ou reagir a eles. Embora a mitigação seja essencial para frear o
aquecimento no longo prazo, a adaptação oferece respostas imediatas à realidade
de milhões de pessoas.
Em cidades costeiras, como Nova York e Londres, obras
de infraestrutura pesada, como diques móveis e barreiras contra tempestades,
foram adotadas para conter a elevação do nível do mar. Em contextos de baixa
renda, como em comunidades de países africanos ou do semiárido brasileiro,
soluções baseadas na natureza, como a recuperação de canais fluviais ou o
reflorestamento com espécies nativas, são formas eficazes e acessíveis de
promover a resiliência à mudança do clima.
“O GGA tem
três pilares que consistem em reduzir vulnerabilidades, fortalecer a
resiliência e desenvolver capacidades adaptativas”, explica Daniel Porcel Bastos, especialista em políticas climáticas
do Instituto Talanoa. Para que isso se torne mensurável,
países estão construindo um conjunto de indicadores comuns, que deverão
permitir uma visão agregada dos avanços em adaptação no mundo.
Para Gustavo Pinheiro, membro do conselho consultivo
da Climate Ventures, um dos grandes desafios é, justamente, conciliar essas
realidades diferentes. “Países insulares têm prioridades diferentes daquelas
elencadas pelos países florestais. O mesmo acontece com nações com
desertificação. O que serve como indicador para um lugar pode não fazer sentido
em outro”, explica.
Segundo o PNUD, menos de 10% do financiamento
climático global é destinado à adaptação, e cerca de 17% desses recursos chegam
efetivamente às comunidades locais, justamente onde os impactos climáticos são
mais severos. A
maior parte permanece concentrada em níveis nacionais ou institucionais. Para
enfrentar essa lacuna, Gustavo Pinheiro, da Climate Ventures, defende a criação
de mecanismos financeiros mais eficazes e acessíveis, como fundos dedicados à
adaptação, garantias para atrair capital privado e taxas internacionais sobre
setores emissores, como aviação e transporte marítimo.
Além dos recursos, a operacionalização do GGA também esbarra em questões conceituais. Um exemplo é a inclusão dos chamados ‘meios de implementação’, que são financeiros, tecnológicos e de capacitação, entre os indicadores do GGA. A medida teve forte resistência de países desenvolvidos.
“Mesmo se conseguirmos a lista
mais bonita do mundo, se não tivermos como monitorar se os indicadores
realmente estão sendo implementados, essa lista não vai servir para medir a
adaptação a nível global”, sintetiza Daniel
Porcel Bastos.
Apesar das dificuldades, o encontro em Belém é visto
como uma oportunidade para resgatar o multilateralismo climático. “O Brasil
entende que o GGA é uma entrega factível e importante para reafirmar o Acordo
de Paris e o multilateralismo no contexto geopolítico mais adverso em que
vivemos atualmente”, diz Porcel.
Garcia, do WRI Brasil, destaca que o GGA pode servir
como estrutura de referência para os países. “Ele ajuda a alinhar planos
nacionais, a atrair recursos e a promover políticas mais coerentes e
mensuráveis”, afirma.
“Adaptação é a ponte entre clima, pessoas e justiça
social. Belém precisa inaugurar uma fase em que isso vire prioridade real com
política, com dinheiro e com metas claras”, conclui Garcia.
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