Daniel Porcel Bastos, especialista em políticas climáticas do Intituto Talanoa diz que
“medir o progresso de adaptação do mundo não é uma
questão de comparar qual país está melhor se adaptando, mas entender que
adaptação é uma questão global. Todos os países precisam se adaptar e mitigar.
São questões complementares para se conseguir cumprir a meta de net zero.
Ele lembra que se está a 140 dias da COP30 e o mandato que termina em Belém deve definir o que é a Meta Global de Adaptação. Explica que existem duasquestões que tensionam o debate: “quais são os indicadores que todos os países vão ter que usar, os ‘headlines’, e quais indicadores os países vão poder optar por usar ou não."
Meta
global de adaptação ganha corpo em Bonn
Países em desenvolvimento querem que junto aos
indicadores existam referências a financiamento, criação de capacidades e
transferência de tecnologia. “São entendidos pelos países em desenvolvimento
como fundamentais para se conseguir implementar esses indicadores", diz
Porcel. Os países ricos, principalmente União Europeia, Austrália e Canadá,
recusam essa conexão.
Outro ponto em aberto é que a meta de os países
industrializados dobrarem o financiamento para adaptação climática, feita na
COP26, em Glasgow, em 2021, visava alcançar US$ 40 bilhões até 2025. Não se
sabe se este objetivo foi alcançado. Mas, além de o valor ser irrisório para os
países poderem se adaptar à urgência climática, o compromisso termina este ano
e não há outro em seu lugar.
Depois de 30 anos discutindo como medir, reduzir e
monitorar gases-estufa, em um esforço global conhecido por mitigação, chegou a
hora de dar corpo à adaptação aos impactos climáticos. Este pode ser um dos
resultados da Pre-COP que acontece em Bonn desde a semana passada e que promete
dar frutos em Belém, na COP30. Embora seja um tópico em que todos os países
desejam avançar, o nó, como de costume, são os recursos financeiros.
Os países ricos não querem ouvir falar do assunto. O
mundo em desenvolvimento estica a corda na direção oposta.
Um grupo de 80 especialistas globais –sendo três
brasileiros –formado na Pre - COP em Bonn, de 2024--, mapeou 10 mil indicadores
e chegou à reunião deste ano com 490 indicadores globais. São agrupados em sete
eixos temáticos –saúde, ecossistemas e biodiversidade, infraestrutura,
agricultura, proteção do patrimônio cultural, água e erradicação da pobreza --
e quatro ciclos de políticas de adaptação (planejamento, análise de risco,
implementação e monitoramento).
Agora, na Alemanha, os países discutem orientações
para que este grupo de especialistas chegue a uma lista de até 100 indicadores
globais e a entregue em Belém. Além disso, debatem o Mapa do Caminho de Baku
para Adaptação (BAR), como seguir depois da COP30, em Belém, e como
implementar.
“As negociações sobre a meta global de adaptação
(GGA) são muito importantes nesse momento porque é nessa pauta que podemos,
finalmente, refletir sobre a implementação da agenda de adaptação”, diz Thaynah
Gutierrez Gomes, consultora para adaptação do Observatório do Clima. “Adaptação
diz respeito ao direito à sobrevivência, ao suporte e financiamento para
enfrentar a crise climática especialmente para as populações mais
vulnerabilizadas dos países mais vulneráveis”, segue.
FONTE: https://valor.globo.com/mundo/noticia/2025/06/26/meta-global-de-adaptacao-ganha-corpo-em-bonn.ghtml